Dieta low carb no tratamento da acne.
Atualizado: 5 de out. de 2021

Muitos estudos têm mantido o foco na associação potencial entre a ingestão de carboidratos e o surgimento ou gravidade da acne. Em 2002, Cordain e colaboradores realizaram um estudo transversal em que 1300 indivíduos de duas sociedades não ocidentalizadas, habitantes da Ilha Kitavan de Papua Nova Guiné e os Aché, caçadores-coletores do Paraguai, foram submetidos a exame de pele por um clínico geral treinado na detecção e diagnóstico de acne. Cordain sugeriu que a ausência de acne nessas sociedades pode ter uma relação direta com o padrão alimentar encontrado nessas populações. Esses grupos se alimentam com dietas de baixa carga glicêmica, além de não consumirem alimentos ultraprocessados como os refinados ocidentais, como cereais, batatas fritas, biscoitos e pão.
O conceito de índice glicêmico (IG) é uma comparação relativa do potencial de alimentos fontes de carboidrato em aumentar a glicose no sangue com base em quantidades iguais (padronizadas) de carboidratos. O conceito de carga glicêmica, no entanto, avalia o índice glicêmico do alimento e a quantidade de carboidratos na porção do alimento consumido, o que reflete melhor a prática clínica.
A hiperinsulinemia induzida pela dieta pode levar a uma cascata de respostas endócrinas que podem influenciar o desenvolvimento de acne por meio de andrógenos, IGF-1 e proteína de ligação a IGF (IGFBP-3). Uma dieta com alta carga glicêmica, consequentemente com estímulo a elevada liberação de insulina, atua como um fator de risco no desenvolvimento de acne por meio de influências no crescimento epitelial folicular, queratinização e secreção de sebo mediada por andrógenos.
Entretanto, a proposição deste estudo ligando a ausência de acne nos povos não ocidentalizados avaliaram apenas uma única variável, o IG da dieta. Porém, estes povos não apenas possuem dietas semelhantes, mas possuem fatores ambientais semelhantes. Os resultados do estudo, portanto, poderiam ter sido reforçados se os indivíduos sem acne recebessem dietas ricas em alimentos com alto índice glicêmico com posterior desenvolvimento de acne.
O hormônio do crescimento (GH) pode estar envolvido na patogênese da acne. IGF-1, o marcador substituto do hormônio do crescimento, é frequentemente usado como um indicador da secreção deste hormônio porque tem pouca variação diurna. Os estudos mostram que os níveis de IGF-1 são maiores em pacientes com acne.
Os níveis basais de insulina foram semelhantes entre os dois grupos, mas após a administração de 75 g de glicose, com avaliação após 2 horas, os níveis somados de insulina foram significativamente maiores no grupo com acne. No entanto, não houve diferença significativa na mudança na testosterona sérica ou testosterona livre durante o teste de tolerância oral à glicose entre os dois grupos. Desta forma, os autores concluíram que havia resistência à insulina leve durante o teste de tolerância à glicose oral em pacientes com acne, mas que a hiperinsulinemia pós-prandial não determinou hiperandrogenemia em pacientes com acne.
Evidências apontam uma melhora da acne com a aplicação de uma dieta de baixo índice glicêmico em estudo realizado com australianos que possuíam entre 15 e 25 anos. Esta dieta também pode resultar em reduções significativas de peso, índice de massa corporal (IMC) e melhora da sensibilidade à insulina.
Sendo assim, para o tratamento da acne, uma dieta low carb e/ou baixa em índice glicêmico pode ser interessante. Porém, seus efeitos parecem estar relacionados principalmente à baixa quantidade de alimentos processados e ultraprocessados na dieta, bem como alta quantidade de ingestão de fibras alimentares através de frutas e vegetais, e de ômegas 3 e 6, promovendo um ambiente não inflamatório no organismo, favorecendo assim, o tratamento da acne.
Referências
BALDWIN, Hilary; TAN, Jerry. Effects of diet on acne and its response to treatment. American Journal of Clinical Dermatology, v. 22, n. 1, p. 55-65, 2021.