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Cuidado com os agrotóxicos - eles podem causar intolerâncias alimentares!

Atualizado: 5 de out. de 2021



Os agrotóxicos representam um grupo de produtos químicos utilizados para destruir, prevenir ou repelir pragas que colocam em risco a produtividade de alimentos em larga escala. Pode-se dizer que eles possuem um certo benefício para a saúde pública, visto que promovem aumento da produtividade de alimentos. Mas é importante compreender que o uso de agrotóxicos apresenta duas facetas. Mais de 20.000 produtos pesticidas com cerca de 900 ingredientes ativos estão registrados para uso com diversas finalidades. Porém, dependendo do agente e da exposição (quantidade e frequência), esses agrotóxicos podem representar riscos à saúde humana e ao meio ambiente. O uso indiscriminado nas lavouras faz com que essas substâncias sejam encontradas nos alimentos que consumimos, na água que bebemos, nas casas, escolas, locais de trabalho e áreas verdes.


Observações consistentes e relevantes levaram os cientistas a inferir que a exposição crônica a baixas doses de certos agrotóxicos pode sim representar um perigo potencial para a saúde humana, inclusive para desenvolvimento fetal e desenvolvimento das crianças. Ainda encontramos algumas divergências na literatura. Sendo assim, são necessários mais estudos para verificar se existem efeitos neurológicos sutis que podem ser resultado da exposição a baixo nível de agrotóxicos em alguns indivíduos.

Embora as ações tóxicas dos agrotóxicos sejam direcionadas a espécies específicas de pragas, o potencial para efeitos adversos à saúde em humanos e outras espécies animais ainda não foram muito bem elucidados. Temos documentados alguns efeitos negativos associados ao uso de agrotóxicos relacionado ao desenvolvimento de alergias e intolerâncias alimentares.


De acordo com estudo publicado no Annals of Allergy, Asthma and Immunology, o jornal científico do Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia (ACAAI), os pesticidas e a água da torneira podem estar relacionados a grande parte das intolerâncias alimentares apresentadas pela população, especialmente relacionado ao glúten ou ao trigo. Por conta da grande demanda por produtos à base de trigo, a indústria utiliza agentes agrotóxicos para otimizar a sua produção. O mais amplamente usado em todo o mundo, principalmente no Brasil, é o glifosato [(N-fosfonometil) glicina] (GLY), que se trata de um herbicida não seletivo e de amplo espectro.


Inúmeros estudos atualmente mencionam que esse herbicida pode desencadear processos de alergia e intolerâncias alimentares, além de ser potencialmente cancerígeno por conta do seu acúmulo na água do meio ambiente. A literatura já vem trazendo diversos dados sobre a relação do uso de glifosato e ocorrência de intolerância ao glúten, visto que ele é muito utilizado na sua produção. A doença celíaca e a intolerância ao glúten podem ser desencadeadas por alterações na composição da microbiota intestinal, e já existem evidências de que o GLY também promove esse desequilíbrio entre as bactérias da microbiota, que poderia desencadear esses distúrbios. Além disso, estudos apontam que a quantidade de resíduos de glifosato no trigo e outros alimentos semelhantes aumentou muito nos últimos anos, por conta do método de dissecação dos alimentos feito antes da colheita.


A utilização de produtos da classe dos diclorofenóis, utilizados especialmente para clorar a água, quando encontrados em organismos humanos, estão associados com alergias alimentares. Entre 10.348 participantes de uma Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA realizada entre 2005 e 2006, 2.548 tiveram diclorofenóis medidos na urina e 2.211 foram incluídos no estudo. Foi encontrada alergia alimentar em 411 desses participantes, enquanto 1.016 possuíam alguma alergia a fatores ambientais.

Embora optar por água engarrafada em vez de água da torneira possa parecer uma forma de reduzir o risco de desenvolver uma alergia, de acordo com o estudo, tal mudança pode não ter sucesso. "Outras fontes de diclorofenol, como frutas e vegetais tratados com pesticidas, podem desempenhar um papel maior em causar alergia alimentar".

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, um aumento de 18% na alergia alimentar foi observado entre 1997 e 2007. Os alérgenos alimentares mais comuns são leite, ovos, amendoim, trigo, nozes, soja, peixe e marisco. Os sintomas de alergia alimentar podem variar de uma erupção cutânea leve a uma reação potencialmente fatal, conhecida como anafilaxia.

Ademais, tem sido mostrado que poluentes ambientais como POPs, pesticidas e bifenilas policlorinadas (PCBs) acumulam no tecido adiposo após a exposição. Foi evidenciada também que a exposição ao Bisfenol A (BPA) afeta o transporte de glicose no tecido adiposo e altera a funcionalidade endócrina dos adipócitos, sendo que em doses ambientalmente relevantes inibem a liberação de uma adipocitocina chave protetora contra a síndrome metabólica. Evidências sugerem que o arsênio, mercúrio, chumbo, POPs e possivelmente BPA, interagem com o funcionamento das células pancreáticas de Langerhans, afetando consequentemente a produção de insulina. A exposição oral a baixas doses de mercúrio através de amálgamas dentárias, do consumo de peixes e vacinas, diminui os níveis plasmáticos de insulina e eleva assim a glicemia e a intolerância à glicose, além de aumentar o estresse oxidativo, induzir citocinas inflamatórias e promover lesão mitocondrial.

A maneira mais segura para a saúde seria a redução do consumo dessas substâncias de modo geral, desde pesticidas a outros compostos xenobióticos, reduzindo o consumo de produtos industrializados e dando preferência aos alimentos orgânicos, que conferem maior proteção detoxificante, antioxidante e apresentam alto teor de fitonutrientes antiinflamatórios.

É importante destacar que mesmo que não seja possível consumir alimentos orgânicos, não deve haver privação do consumo de alimentos vegetais, incluindo frutas, legumes e verduras, pois o consumo destes e suas vitaminas, minerais e fitoquímicos se sobrepõem aos possíveis efeitos negativos causados por agrotóxicos e outros tipos de substâncias.

Referências

WEISS, B.; AMLER, S.; AMLER, R. W. Pesticides Pediatrics 113: 1030–1036. Find this article online, 2004.


ACAAI, 2012.


SHARP, D. Environmental toxins, a potential risk factor for diabetes among Canadian Aboriginals. Int J Circumpolar Health; 68(4):316–326, 2009.


FONTENELE, E.G.P.; MARTINS, M.R.A.; QUIDUTE, A.R.P.et al. Contaminantes ambientais e interferentes endócrinos. Arq Bras Endocrinol Metab.;54(1):6-16, 2010. 12- GHISELLI, Gislaine; JARDIM, Wilson F. Interferentes endócrinos no ambiente. Quím. Nova, São Paulo, v. 30, n. 3, June 2007.

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