Adoçantes na dieta, será que eles ajudam a emagrecer?
Atualizado: 5 de out. de 2021

Embora os adoçantes artificiais tenham sido desenvolvidos como um substituto do açúcar para ajudar a reduzir a resistência à insulina e a obesidade, existem muitas dúvidas em relação à sua segurança e seus efeitos no organismo, principalmente sobre a resistência à insulina e a microbiota intestinal.
A obesidade é um grande problema de saúde pública de causas multifatoriais. Afeta crianças e adultos e abrange todas as etnias e raças. Nos EUA, entre 1980 e 2000, a prevalência geral de obesidade aumentou significativamente entre homens e mulheres adultos. Estudos sugerem que a obesidade é muito mais complexa do que se pensava e é resultado de vários fatores internos do indivíduo e fatores ambientais externos. Diversos fatores que contribuem para a obesidade incluem, mas não estão limitados ao consumo de alimentos com alta densidade energética, porções grandes, sedentarismo, alterações no microbioma intestinal, consumo de um teor predominantemente alto de gordura e/ou açúcar na dieta e, também, o uso de adoçantes artificiais.
O uso de adoçantes artificiais, também conhecido como adoçantes não calóricos, tem crescido com o avanço da tecnologia e concomitantemente ao aumento da epidemia de obesidade, e em particular devido à crescente preocupação com complicações relacionadas à obesidade, incluindo síndrome metabólica e resistência à insulina.
Apesar do aumento do uso de adoçantes artificiais, não parece haver uma diminuição correspondente no consumo de alimentos ou bebidas adoçadas com açúcar durante o mesmo período. A maioria dos adoçantes artificiais é baixa em calorias e não é metabolizada pelo indivíduo.
Estas substâncias foram originalmente desenvolvidas como substitutas do açúcar com base na premissa de que o uso desses produtos resultaria em diminuição da ingestão calórica, levaria à perda de peso, e diminuiria a incidência de diabetes mellitus. De forma interessante, os adoçantes também têm sido usados desde 1950 para promover a alimentação e ganho de peso em animais agrícolas como uma alternativa mais barata ao açúcar. Apesar do uso generalizado deles, a prevalência de obesidade permaneceu estável, sugerindo que eles não são uma ferramenta ideal para perda de peso. Além disso, há evidências crescentes de que o uso de adoçantes artificiais não diminui o risco de desenvolver certas doenças crônicas como hipertensão, derrame, doença renal, doença arterial coronariana, resistência à insulina ou obesidade, mas pode realmente ter um risco equivalente ou aumentado dessas doenças em comparação com alimentos e bebidas que contenham açúcar.
Tipos de adoçantes
A sacarina é o adoçante artificial mais antigo, foi desenvolvido em 1879. Possui um poder de doçura de 200 a 700 vezes maior que a sacarose e é comumente usada em refrigerantes, doces, molhos para salada, chicletes, e produtos não comestíveis, como pasta de dente, enxaguantes bucais e medicamentos.
Posteriormente, surgiram outros tipos, como o aspartame, que foi aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) em 1981, e é aproximadamente 200 vezes mais doce que a sacarose. O acessulfame de potássio (acessulfame K), que é cerca de 300 vezes mais doce do que a sacarose, e a sucralose, que é 600 vezes mais doce do que a sacarose.
Os adoçantes artificiais mais recentes no mercado incluem produtos derivados de plantas, como stevia, e álcoois de açúcar fermentados, como sorbitol e xilitol, que têm um efeito laxante se consumidos em grandes quantidades.
Efeitos no organismo humano
Algumas pesquisas analisaram os efeitos da utilização de adoçantes artificiais no controle da glicose no sangue em voluntários saudáveis que não consumiam quantidades significativas destas substâncias anteriormente. Mais da metade apresentaram tolerância à glicose diminuída em 5 a 7 dias de exposição quando comparado com os primeiros 4 dias. Este estudo sugere ainda que a heterogeneidade no microbioma humano torna alguns indivíduos mais vulneráveis à intolerância à glicose do que outros após a exposição aos adoçantes artificiais.
Estudos anteriores mostraram que o consumo deste tipo de adoçantes leva a um aumento das avaliações subjetivas de motivação para comer e aumentaram o apetite subjetivo em relação ao grupo controle. Mais recente, dados sugerem que eles não induzem saciedade da mesma forma que o açúcar e têm inúmeros efeitos sobre a digestão, absorção de nutrientes e o metabolismo. Ademais, temos dados que mostram que a ingestão de glicose estimulou GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon 1) e GIP (peptídeo insulinotrópico dependente de glicose), ou seja, peptídeos que estimulam a saciedade, em níveis maiores em comparação com aqueles que receberam sucralose (outro tipo de adoçante). A estimulação desses hormônios intestinais se correlacionou com maior retardo do esvaziamento gástrico e aumento da saciedade.
Os efeitos da ingestão de sucralose também foram investigados em indivíduos obesos sensíveis à insulina que não consumiam adoçantes artificiais. A ingestão de sucralose antes de uma ingestão alta de glicose leva a um pico nas concentrações de glicose plasmática e maior secreção de insulina em comparação com o grupo controle que ingeriu água 10 minutos antes de uma carga de glicose. Os adoçantes parecem estimular os receptores de sabor doce, aumentando a liberação de insulina, contribuindo para quadros de resistência a esse hormônio em indivíduos com excesso de peso.
Numerosos estudos de coorte prospectivos em grande escala mostraram uma associação positiva entre o uso de adoçantes artificiais e o aumento do IMC dependendo da dose utilizada. Azad e colaboradores (2016) demonstraram que o consumo materno de bebidas adoçadas artificialmente durante a gravidez foi associado com maior índice de massa corporal (IMC) infantil. O estudo recrutou 3.033 mães saudáveis entre 2009 e 2012 e avaliou o consumo de adoçantes artificiais e bebidas adoçadas com açúcar baseado em avaliações dietéticas durante a gravidez. O estudo mostrou que o consumo diário de bebidas adoçadas artificialmente foi associado a um risco duas vezes maior do bebê estar acima do peso com 1 ano de idade.
Sendo assim, embora os adoçantes artificiais tenham sido criados como substitutos do açúcar para auxiliar na perda de peso e resistência à insulina, há uma significativa quantidade de dados sugerindo que estas substâncias por si só não favorecem o emagrecimento, muito pelo contrário.
Referências
PEARLMAN, Michelle; OBERT, Jon; CASEY, Lisa. The association between artificial sweeteners and obesity. Current gastroenterology reports, v. 19, n. 12, p. 64, 2017.